Por que o 'excesso de energia' no Brasil não barateia a conta de luz?
01/11/2025
(Foto: Reprodução) Excesso de energia pode provocar apagão?
Se há energia sobrando, por que a conta de luz está na bandeira vermelha, a mais cara?
O Brasil vive hoje um paradoxo em seu sistema elétrico: em alguns momentos de excesso precisa cortar a geração de energia renovável, e, em outros, aciona termelétricas, mais caras e poluentes.
🔌Esse excesso tem levado a cortes na geração de energia — o chamado curtailment — que estão cada vez mais frequentes e já geram prejuízos bilionários aos setores eólico e solar.
🗨️SUA DÚVIDA 📲: Este texto responde às principais perguntas dos leitores nos comentários da reportagem "Para evitar apagão, Brasil corta energia renovável e aciona termelétricas: entenda paradoxo do sistema elétrico". Você também pode mandar sugestões pelo VC no g1.
Na reportagem sobre o tema, leitores questionaram por que este excesso de energia não faz o preço da conta de luz cair.
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Excedente (ainda) não pode ser armazenado
Apesar de o Brasil ter, em alguns momentos do dia, mais geração de energia renovável do que demanda de consumo, esse excedente ainda não pode ser armazenado. E, para evitar sobrecarga no sistema, o Brasil precisa cortar a geração em parques eólicos e usinas solares.
"O Brasil trabalha com uma matriz energética diversificada, composta por diferentes fontes. Algumas são consideradas usinas de base - aquelas que posso acionar quando quiser, porque contam com armazenamento, como as térmicas e as hidrelétricas. E também temos as fontes renováveis, que eu chamo de perecíveis, porque, se não forem usadas no momento em que são geradas, acabam se perdendo", explica Jonathan Colombo, engenheiro e professor do MBA em ESG de Mudanças Climáticas e Transição Energética da FGV.
➡️Ou seja, o excedente precisa ser “desperdiçado” e não se traduz em tarifas mais baixas na conta de luz. E, como em momentos de alta demanda - como no começo da noite - as renováveis geram menos energia, o país recorre a fontes que podem ser acionadas a qualquer momento, como as termelétricas, que custam mais caro e impactam na bandeira tarifária.
🔋Por isso, a tendência mundial tem sido investir em baterias capazes de armazenar eletricidade nos momentos de sobra. De acordo com Gustavo Ponte, superintendente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o custo dessas baterias tem caído no mundo todo, puxado especialmente pelo mercado de veículos elétricos.
Por dentro da conta de luz: o peso dos subsídios
A composição da tarifa de luz também ajuda a explicar por que o excedente de energia não reduz o valor final pago pelo consumidor. A conta de luz reúne uma série de componentes: geração, transmissão, distribuição, encargos e tributos.
O maior peso vem da geração de energia, ou seja, da fonte responsável pela produção da eletricidade. Essa fatia representa cerca de 30% da tarifa, segundo a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee).
Em seguida, aparecem os custos de distribuição (26%), tributos (18%), encargos (15%) e transmissão (10%).
É nos tributos e encargos que estão os subsídios — incentivos concedidos pelo governo a determinados setores. De acordo com o Subsidiômetro da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), até 30 de outubro de 2025 os subsídios representavam 17,5% da tarifa do consumidor.
Entre os setores beneficiados, estão, por ordem de peso:
Fontes incentivadas, como energia solar e eólica.
Geração distribuída: popularmente conhecida como “energia de telhado”, são os painéis solares instalados em residências e empresas.
Conta de Consumo de Combustível (CCC): que cobre o custo da energia a diesel usada em sistemas isolados da Amazônia.
Tarifa social: desconto para famílias inscritas no CadÚnico.
📈 Nos últimos anos, o valor destinado aos subsídios cresceu. Dados da Aneel mostram que foram R$ 23,5 bilhões em 2020, R$ 33,5 bilhões em 2022 e R$ 48,9 bilhões em 2024.
Desde 2022, com o Marco Legal da Geração Distribuída, o setor registrou crescimento exponencial — e, com ele, o volume de subsídios. Em 2021, a parcela destinada à geração distribuída foi de R$ 1,35 bilhão. Em 2024, saltou para R$ 11,6 bilhões.
O presidente da Abradee, Marcos Madureira, defende a redução dos subsídios para o setor. "Precisamos parar de criar novos subsídios. Enquanto continuarmos criando incentivos sem dizer de onde virá o dinheiro, o custo da energia seguirá alto", afirma.
Há caminhos para baixar a tarifa?
Para especialistas do setor, um dos caminhos para reduzir o custo da energia é a implementação de tarifas dinâmicas, que ofereçam preços mais baixos nos horários de maior geração, como entre 10h e 16h, e mais altos nos períodos de menor oferta.
Assim, o consumidor poderia economizar ao, por exemplo, ligar a máquina de lavar ou carregar o carro elétrico durante o dia.
"O sinal de preço é fundamental para o uso eficiente do sistema. Ele vale para o consumidor — que pode usar energia em horários mais baratos — e também para o gerador, que pode ofertar quando ela vale mais", explicou o presidente da Abradee.
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