Cientistas usam esperma fluorescente e revelam que as fêmeas controlam o ato sexual entre os mosquitos
01/11/2025
(Foto: Reprodução) Pesquisadores descobrem que fêmea do mosquito da dengue é que domina o sexo
Jacopo Razzauti/Universidade Rockefeller
Pesquisadores usaram esperma fluorescente e descobriram que as fêmeas do mosquito da dengue, Aedes aegypti, escolhem com quem acasalar.
Pesquisadores da Universidade Rockefeller, em Nova York, descobriram que as fêmeas do mosquito Aedes aegypti controlam o acasalamento ao abrir, ou não, suas genitálias para os machos. A conclusão desafia a antiga visão de que os machos as escolhiam e elas eram passivas na relação.
O estudo foi publicado na revista científica Current Biology, revelou esse comportamento com a ajuda de uma técnica curiosa: espermatozoides fluorescentes.
Como foi feita a descoberta
Para entender o que acontece durante o acasalamento — que dura poucos segundos e normalmente ocorre no ar — os cientistas criaram mosquitos transgênicos que produziam espermatozoides fluorescentes.
Ao analisar centenas de fêmeas depois do acasalamento, os pesquisadores notaram que mais de 90% delas tinham esperma de apenas uma cor, o que confirma que acasalam apenas uma vez na vida.
➡️ Mas a descoberta mais surpreendente veio quando a equipe filmou o processo com câmeras de alta velocidade.
Ao observar quadro a quadro, os cientistas perceberam que o macho só consegue acasalar se a fêmea alongar a ponta de sua genitália — um gesto quase invisível, de menos de um milímetro, mas essencial.
Muitos machos abordavam as fêmeas, mas não conseguiam concluir a relação ou eram -- literalmente -- chutados por elas. Os pesquisadores descobriram que sem esse movimento intencional e de consentimento a cópula simplesmente não acontece.
“É como se houvesse um código de receptividade”, explica a pesquisadora Leah Houri-Zeevi, uma das autoras do estudo.
Um código biológico
O mecanismo funciona como uma espécie de “chave e fechadura”: o macho toca a fêmea com estruturas semelhantes a baquetas — chamadas gonóstilos — e, se ela aceitar, abre o caminho para o acasalamento. Caso contrário, mantém os genitais retraídos e impede a cópula.
O mesmo comportamento foi observado em outra espécie próxima, o Aedes albopictus, que também transmite dengue e chikungunya.
Os pesquisadores perceberam, porém, que machos de A. albopictus conseguem forçar o acasalamento com fêmeas de A. aegypti. O cruzamento entre as duas espécies não gera descendentes e, pior, faz com que as fêmeas fiquem inférteis — um fenômeno que pode, na prática, levar à extinção local da espécie.
Por que isso importa
Além de revelar detalhes inéditos da biologia do mosquito da dengue, o achado pode ter implicações no controle das doenças transmitidas por ele.
Entender os mecanismos do acasalamento — especialmente o papel ativo das fêmeas — pode ajudar a desenvolver estratégias de controle mais eficazes, já que o Aedes aegypti continua sendo um dos principais vetores de dengue, zika e chikungunya no Brasil e no mundo.